Memórias

As tardes de inverno não são como as do outono, mas nos remete a lembranças também. Por vezes,
olho para o horizonte e me pego pensando em algo que deixou saudades. 

Hoje, por exemplo, me lembrei bastante de minha vozinha materna que todas as vezes, sim TODAS as vezes, que íamos visitá-la fazia um delicioso bolo que só ela sabia fazer. Enquanto assava no forno, aquele aroma inebriávamos de vontade de saboreá-lo! Ela fazia com fartura. 

Hoje não tenho mais a companhia de minha vozinha, que faleceu no dia 23 de maio há 3 anos, sofria de alzheimer. Ultimamente não a reconhecia como minha vozinha, estava muito agressiva. No entanto, apesar desse mal, ainda era aquela senhora cheirosa que durante muitos anos fez bolos pra todos que chegavam em sua casa. Apesar de já terem 3 anos, ainda sinto seu cheirinho doce de vovó. 

É... A gente cresce! Mesmo não querendo, crescemos. Mas, as lembranças permanecem em nossa memória, mesmo com esse tal de alzheimer, as pessoas têm seus momentos de lembranças.

Portanto, devemos cultivar momentos com sabedoria, pois ficarão em algum arquivo de nossa memória. 

Apesar da tecnologia avançada, não somos robôs e já tivemos um passado que nos permitiu sermos o que somos hoje. Com situações boas outras nem tanto e, talvez, horríveis passamos por tudo e aqui estamos com nossas reminiscências. 

E você, tem alguma lembrança que vez por outra vem em sua memória? 

Deixo para degustação de vocês um poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa).

Beijinhos.

O Passado é o Presente na Lembrança

Se recordo quem fui, outrem me vejo,

E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterônimo de Fernando Pessoa