É preciso saber navegar!

Quando criança não imaginava que passaria por uma situação como nos filmes de ficção. Acredito que muitos também não. Hoje vivemos um momento mundial mobilizados por um vírus, vírus que nos isolou da sociedade, nos afastou de um aperto de mão, de um abraço, de um carinho. Ouço e leio muito nas redes sociais que isto está nos refazendo como pessoas, está ressignificando nosso convívio social.

Eu mesma me dizia antissocial, mas com essa situação de isolamento social, percebi que, mesmo aos poucos, preciso de interação com os demais. Sinto falta de ver pessoas passando, correndo, conversando, rindo e até "discutindo com o celular". Aprecio o cotidiano alheio, amo os detalhes que observo, tiro um riso de mim mesma, analiso comportamentos, enfim... estou saudosa disto.

A vida é muito gostosa quando se sabe vivê-la. como diz a música de Erasmo Carlos/Roberto Carlos na voz de Titãs, É preciso saber:

 

Quem espera que a vida

Seja feita de ilusão

Pode até ficar maluco

Ou morrer na solidão

É preciso ter cuidado

Pra mais tarde não sofrer

É preciso saber viver

Toda pedra do caminho

Você pode retirar

Numa flor que tem espinho

Você pode se arranhar

Se o bem e o mal existem

Você pode escolher

É preciso saber viver

Com o tempo, o passar dos anos, podemos evoluir como pessoas e, por consequência, como seres humanos. Deixamos de nos aborrecer com pequenas coisas, deixamos de nos preocupar com o que os outros vão pensar, deixamos de querer ouvir o que o outro quer falar sobre alguém (fofoca) e, assim, aprendemos a vida.

Uma das frases mais famosas de Fernando Pessoa é “Navegar é preciso; viver não é preciso”. No início, pela falta de amadurecimento, eu discordava dele, mas com o tempo relendo-a, percebi que o navegar nos dá uma direção, um norte, o que a vida não oferece. Quando nos damos conta de quem somos, fazemos planos em todos os âmbitos e no fim quase nada conseguimos e vem a decepção, a frustração e aqueles que são mais sensíveis não suportam e se entregam. Por isto é melhor, é necessário navegar pois assim não há possibilidades de erros no caminho. Traçar planos não é errado, mas viver em função deles pode nos prejudicar.

Em meu caso, meus planos na infância se baseavam em ser uma secretária executiva e ter um filho (menino) de proveta e cria-lo sozinha. Na adolescência tudo virou; conheci o pai de meus filhos e aos 18 anos me casei (no dia que também me formei professora). Tive dois filhos homens que amooooo, apesar de ter planejado um só, prestei concurso e “virei” professora de crianças, à priori, tia. Não tive êxito em meus planos pra vida, mas depois do divórcio, me formei professora de literatura e português e me encontrei nas letras. Eu estou hoje, aos 44 anos, navegando. Um plano aqui, outro ali, mas nada que vá me decepcionar caso não os realize. A navegação é mais bem-vinda, é tranquila, é calma. É viver sem restrições e grandes desafios. O que vier é lucro.