Volta por cima

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Volta por cima Casamento de meu primogênito. Quanto tempo?! Isso mesmo, mas ainda estou por aqui. Minha vida deu uma virada significativa desde que Deus se revelou para mim.  Depois que recuperei da tentativa contra vida, voltei a sonhar. Ainda tenho sequelas como a visão embaçada, no entanto isso não me atrapalha no dia-a-dia. Estou firme nos propósitos que formulei para estar sempre na vontade de Deus. Consegui vencer a depressão, trabalho com dedicação no trato com meus alunos, tenho comunhão na igreja com as pessoas e com Deus, entrei na autoescola e tirei minha CNH. Estou dirigindo!!!!! Hoje, quase 3 anos depois do fundo do poço, estou vivendo o melhor de Deus. Nunca imaginei viver essa sensação tendo vivido deprimida por anos. Quando Deus tomou o controle de minha vida, realmente, tudo mudou. Ele governa tudo. O Espírito Santo que habita em mim tem me capacitando a ser um Ser Humano melhor. Meus filhos se formaram grandes homens! Meus pais estão idosos e necessitando de minha pre

Violência contra a mulher - Olhos que Penetram a Noite.


Olhos que penetram uma noite e a perduram por anos.

“Estava vindo de uma reunião e já era noite. Eu estava sozinha e andando pela calçada onde nada se movia.  As casas pareciam vazias. Sem vida. A noite estava silenciosa a não ser pelo barulho das folhas que bailavam com o vento. Pode se pensar que em meio a becos sombrios e ruas escuras como aquelas não se encontre nada além de medo, incertezas e escuridão. Mas, quem pensa assim pode estar equivocado. No meio do nada, de todo o breu pode-se esconder algo precioso. Algo que só mentes astutas e maquiavélicas conseguem enxergar em meio a um ambiente assim. Mentes que veem além de seus olhos, que penetram na escuridão como se estivessem entrando num labirinto de olhos fechados sendo guiadas pelo instinto e pela perspicácia de seu ser. Em certo ponto de meu trajeto comecei ter a sensação de estar sendo acompanhada. Olhava para trás e nada, para os lados e também nada. À frente só a iluminação precária dos postes que refletia sua luz fraca no chão molhado pela neblina que descia. Comecei a aumentar meus passos, peguei umas pedras pequenas que encontrei pelo chão e fui para o meio da rua com meu coração acelerado e muito medo. Em certo ponto da viela havia uma rua bem estreita e escura por onde não tinha como eu desviar. Parei. Respirei bem fundo, ajeitei as pedras na mão e segui. Quando estava terminando de passar por aquela rua, fui surpreendida por um vulto de sobretudo e chapéu que me pegou pelo braço e encostou na parede. Seu corpo estava tão quente que saia um calor através do sobretudo misturado a um perfume barato junto com um hálito forte de cigarro. Meu medo misturou-se a uma sensação estranha ao ouvir aquela voz sussurrando: - Você está sempre em meus pensamentos! Não consigo me controlar! Preciso saciar essa vontade que me consome! – ao dizer essas palavras, meu coração acelerou tanto que só me lembro de ver que passava alguém longe, mas depois perdi os sentidos. Quando acordei estava sozinha deitada no chão, com a roupa suja e uma sensação de dor pelo corpo todo. Parecia que a noite tivesse se estendido por mais tempo. Um rapaz que assistiu tudo veio até mim e disse que não me ajudou porque pensou ser “coisa de homem e mulher” e me ajudou a levantar devagar. Mesmo daquele jeito, fui andando lentamente até minha casa. Descansei e logo, mesmo ainda suja atravessei a cidade - sendo observada com olhares de vários tipos menos de ajuda ou de empatia – fui à delegacia contar o que havia acontecido. Ao chegar lá, meus cabelos caiam no balcão, meu pescoço, meus braços e todo o meu corpo doía. Relatei para o escrivão o ocorrido e ele se virou para mim sem sequer me perguntar se eu estava bem e disse que dali a uns dias eu voltaria para retirar a queixa como “toda mulher de malandro faz”. Confesso que me senti um lixo. Nem um exame foi feito, nem nada de providências. Sem falar no amor e empatia das pessoas que me viram. O rapaz que assistiu e não me ajudou. Aquela noite perdurou por meses em minha vida. Vi a necessidade de fazer terapia por conta própria. A terapeuta me levou para fazer vários exames na casa da Mulher – eu não tinha coragem de ir sozinha. Ela foi comigo. Os resultados foram negativos para DSTs. Um alívio pra mim que vivia em uma constante noite. Com o passar do tempo, fui superando e fazendo com que essa noite começasse a clarear. Casei. Mesmo assim, por dentro a sombra daquela noite ainda existia, veio a quase se tornar branca dois anos depois quando recebi uma intimação para comparecer à delegacia e esclarecer os fatos. Como eu já estava casada, meu marido pediu que eu não desse continuidade ao processo e foi o que fiz em respeito a ele e devido à demora, pois dois anos não são dois dias!!! E o que aconteceu naquele dia ninguém mais faz desaparecer da minha mente, e a justiça? No entanto, superei a noite dentro de mim. Percebi que não sou um lixo. Estou aqui vivenciando amanhãs que aprendi a valorizar com a noite sombria dentro de mim.

    'Talvez, se eu fosse afrodescendente, os direitos humanos tivessem feito alguma coisa, mas, como sou     só mais uma mulher branca e pobre, como muitas no anonimato que sofrem e não tem voz, passei         por desapercebida e virei estatística' - diz.

Essa crônica é baseada em uma história real de alguém que se reserva ao anonimato para não ser exposta, mas que representa muitas mulheres brancas que são agredidas, abusadas, violentadas e muito pouco ou nada é feito para ajudá-las!


Somos Marias, Anas, Carlas, Sofias, Cláudias, Bernadetes, Flávias, Lívias, Karens, Luízas, Carolinas, Patrícias, Jéssicas, Martas, Cristinas, Lúcias, Denises, e tantas outras brasileiras sem voz, mas que para a população não passa de mais uma na estatística. Independente de raça, cor, religião o ser Humano precisa ter amor pelo outro e precisa ser olhado da mesma forma. Se cada um fizer a sua parte, podemos mudar o quadro. É um processo lento, mas antes lento do que impossível. Precisamos resgatar os valores humanos.


E você, está fazendo a sua parte?





Comentários

  1. Um relato no qual ninguém fica indiferente. Infelizmente a justiça não faz nada. Por vezes, dentro da própria justiça, também existe o assédio... Obrigada pela partilha do texto!
    Sim, existem muitas "Marias" nesta situação!🌹

    *
    Neste mundo aonde me permito vaguear
    *
    Beijos e uma excelente semana.

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    1. Sim, Cidália! Não tem como ficar indiferente diante de um relato desses, essa mulher sobreviveu para contar sua experiência tanto com a violência física vivida com o agressor , quanto pela psicológica vivenciada na delegacia. Fico pensando quantas vivem isso e são silenciadas??

      Boa semana, minha flor!

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  2. Uma história tão mais inquietante por ser verdadeira. Muito bem contada esta crónica lembra-nos quanta violência existe por aí sobre as mulheres sem que ninguém se importe...
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. E Bem verdadeira, Graça. Como muitas por aí que ninguém toma conhecimento.

      Boa semana e fique bem.

      Beijinhos.

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    2. Meus olhos umedeceram por sua causa e quando
      percebi que não eras a protagonista do filme, segui
      triste do mesmo jeito. Meu Deus, como o ser humano
      é malvado com a própria espécie!
      Parabéns pela narrativa. Gente, cuidado com o que
      vocês fazem. Lembrem-se que, “Aquele” que teve coragem
      de dar o seu “filho” para salvar o mundo também
      pode tirar dos homens o que lhe enche os olhos e tira
      sua razão. Já pensou ficar sem mulher, já?!
      Um beijo e parabéns pela escrita.
      (vamos seguir o blog um do outro, vamos?!)

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    3. O ser humano tem uma natureza que pode ser, e tem sido cada vez mais, fria e desprovida de sentimento pelo próximo.

      Obrigada pela sua visita e seu comentário, Silvio!

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  3. Entre homem e mulher ninguém mete a colher.
    Terá sido por isso que ninguém auxiliou a vítima e permitiu uma violação.
    Bjs, boa semana

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    1. Parece que sim, Pedro, mas não era o caso. pois não se tratava de marido e mulher. Mas, foi o que o rapaz pensou, segundo a vítima relatou. No entanto, mesmo assim, ele poderia ter ligado para a polícia anonimamente e dito que havia algo suspeito. Não havia desculpa.

      Beijinhos e boa semana.

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  4. Um excelente texto e faço minhas as palavras da Cidália e da Graça.
    Um abraço e boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Caro amigo, Francisco, agradeço sua visita e seu comentário.
      Boa semana!!

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  5. Que tema instigante e que os provoca tristeza pois vemos acontecer mais e mais e parece não ter fim. Triste isso! Lindo dia! bjs, tudo de bom,chica

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    1. Verdade, Chica! É muito recorrente!

      Beijinhos e boa semana!

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  6. Verdadeiramente inquietante o teu texto!
    Os monstros existem. E a monstruosidade só pára quando a justiça deixar de ser complacente. Falo em justiça e não em justicialismo.
    Temos todos, que acabar com esta vergonha!!

    Um abraço.

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    1. Existem em todas as esferas.

      Obrigada por vir e comentar.

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  7. Olá, Cléo!

    Um relato impressionante, mas, infelizmente, esses atos continuam a existir por todo o lugar, e tanto faz ser gente de classe alta, qto baixa. A mulher, em parte, tem culpa, pke acaba por retirar a queixa apresentada na delegacia/polícia e continua a viver com homens, maridos ou companheiros, violentos e que as tratam muito mal. Então, querem ser lixo ou têm outras razões para continuar: medo, dependência económica, etc.
    No caso da personagem dessa tua história, ela fez mal por não ter comparecido na polícia mesmo após dois anos do sucedido e estando já casada, mas de novo aceitou a opinião de seu novo marido. Procedeu mal.
    As terapias a que foi submetida ajudaram muito, mas algo fica sempre em sua mente: aquela tenebrosa noite.
    O rapaz bem que poderia, mesmo anonimamente, ter denunciado o caso, mas pensou ser zanga entre marido e mulher, aliás, é o que todo o mundo pensa, mas mesmo que fossem marido e mulher, há que denunciar, porque a mulher é sempre o elo mais fraco.

    Qto à sua questão, posso te responder que já denunciei dois casos de casais que viviam no edifício de 9 andares onde habito e cada um foi para seu lado. Agora divorciados e com novo amor, se sentem felizes, porque há harmonia, entendimento e respeito.

    Beijos e bom domingo.

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    1. Céu, fico feliz por teu relato! Contente por saber que não é conivente com essas situações, eu também já fiz. Inclusive aconselho a meus filhos na condução de suas namoradas, pois nuca se sabe o que pode acontecer. O mundo está difícil de se viver, enquanto a natureza luta para sobreviver em seu esplendor, o homem a todo custo tenta destruí-la com seu modo de vida cada vez mais duvidoso.
      Obrigada por vir, minha flor!

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  8. Uma crónica triste e que nos causa mágoa.
    E ainda mais por ser baseada em factos reais.
    Tenha dias cheios de saúde .
    Beijinhos
    :)
    http://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/

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    1. Olá, Piedade! Sim, é verídica lamentavelmente.

      Paz e saúde para ti também!!!

      Beijinhos.

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  9. Triste historia y tremenda realidad. Un texto muy profundo. Beso

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    1. Que prazer recebê-la, Hanna!
      Sim, é um fato triste e real!

      Beijinhos.

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